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A adversidade na política é legítima, mas exige a ressalva do bem coletivo!
Por Ferreira Filho
Por Ferreira Filho
Publicado em 15/06/2025 06:50
COLUNA

A última semana terminou sob ventos fortes, literalmente, em Aracaju. As rajadas que sopraram a capital provocaram a suspensão prudente da programação no Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia — decisão acertada do Governo do Estado, que priorizou a segurança da população. No entanto, enquanto o vento varria a areia da orla, outro tipo de tempestade se formava: a dos ânimos políticos, que parecem ter esquentado ao ritmo das fogueiras juninas e dos rojões de buscapés.

Entre as brasas mais incandescentes, a fala do governador Fábio Mitidieri se destacou — e não positivamente. Ao declarar publicamente sua posição de adversário da prefeita da capital, Emília Correia, o governador não apenas marcou território, mas também acendeu um alerta sobre os riscos de se ultrapassar a linha tênue entre oposição política legítima e uso indevido da função pública para alimentar disputas.

O que mais chamou atenção foi o contexto em que tudo aconteceu: na Festa dos Caminhoneiros, em Itabaiana, em meio a registros fotográficos de alianças oposicionistas bem organizadas, a fala do governador veio como um estopim.

Coincidência ou não, o momento escolhido e as palavras utilizadas abrem margem para diversas leituras, algumas delas graves — como a acusação de “perseguição” feita por um ex-aliado, o deputado federal Thiago de Joaldo, que agora se soma ao time da oposição.

A política, por sua natureza, é feita de contrapontos, divergências e disputas. Ser adversário é legítimo — seria até estranho que não houvesse embates em um cenário democrático. O que não se pode permitir é que o calor do jogo político ultrapasse os limites da responsabilidade institucional. O cargo que se ocupa, seja no Executivo estadual ou municipal, deve servir antes de tudo ao povo, e não às paixões ou ressentimentos eleitorais.

Afinal, Aracaju não pode — nem deve — ser penalizada por embates políticos. Espera-se maturidade de ambos os lados: que o governador não permita que a cidade sofra retaliações políticas em forma de ausência de ações, assim como se espera dos vereadores que não confundam oposição com obstrução. O que une Emília e Fábio, gostem ou não, é o compromisso constitucional e moral com o bem-estar da população aracajuana.

Se há adversidade, que ela se dê no campo das ideias. Se há disputa, que seja nas urnas e nos argumentos — não na suspensão de parcerias, no corte de recursos ou na guerra de bastidores. O eleitor tem memória e sabe distinguir quem age com espírito público de quem tenta apagar incêndios políticos com gasolina.

Que os fogos do São João fiquem nas festas e que os embates políticos não ultrapassem o limite do razoável. Porque a cidade — essa sim — precisa de paz, trabalho e responsabilidade.

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