Já destaquei em textos anteriores: Emília Correia é, sem dúvidas, a personagem política mais patrulhada de Sergipe neste início de ciclo administrativo. Desde que assumiu a prefeitura de Aracaju, as atenções — e tensões — se voltaram para cada passo da nova gestora. Não por acaso. A vitória de Emília, costurada em meio a uma disputa dura contra um grupo político tradicional e consolidado, que teve inclusive o apoio do governador Fábio Mitidieri, criou uma narrativa de resistência e expectativa que ainda ecoa nas estruturas do poder local.
Emília venceu, contrariando previsões e estruturas. E com a vitória vieram também os holofotes — pesados, inquisidores, muitas vezes impiedosos. Setores econômicos, lideranças políticas e a própria sociedade passaram a medir cada ação da nova gestão sob o rigor do microscópio político. Afinal, sua performance à frente da capital sergipana se converte, diretamente, em termômetro para os desdobramentos eleitorais vindouros.
Foi nesse cenário, entre erros e acertos próprios de um começo de gestão, que a prefeita optou por delegar a função de porta-voz ao radialista e jornalista Carlos Ferreira. Uma escolha que, à primeira vista, pareceu acertada. Carlos tem um currículo respeitável, com quatro décadas de jornalismo e atuação no rádio sergipano. Sua nomeação foi, inclusive, saudada por parte da imprensa local como uma sinalização de profissionalismo na comunicação institucional.
No entanto, a breve passagem de Ferreira pelo cargo terminou de forma abrupta e ruidosa, fruto de um claro desvio de função e uma condução política pouco afinada com as exigências do papel que lhe foi confiado. Ser porta-voz é mais do que falar — é representar, ecoar a voz de quem governa, sem ruídos, sem interferências pessoais. E, sobretudo, sem protagonismos. A função requer habilidade técnica, mas também sensibilidade institucional. Quando um porta-voz se posiciona politicamente, sem a devida mediação ou aprovação da autoridade que representa, ele compromete toda a engrenagem administrativa.
O episódio gerou desgaste, tensionou relações com o legislativo municipal e expôs a prefeita a um fogo cruzado desnecessário. Diante disso, a exoneração de Carlos Ferreira não apenas se justificou — tornou-se medida prudente. Emília agiu corretamente ao preservar a harmonia institucional, fundamental para qualquer administração pública que preze pela governabilidade.
O saldo, ainda que amargo, é um aprendizado para todos os envolvidos. A prefeita, que precisa ajustar sua comunicação e manter a sintonia com os atores políticos da cidade. O jornalista, que talvez tenha confundido função com opinião — algo perigoso em ambientes oficiais. E a sociedade, que, ao observar o episódio, testemunha mais um capítulo da complexa arte de governar.
Desejo a Carlos Ferreira serenidade e recomeço — porque sua trajetória merece respeito. E à prefeita Emília Correia, que consiga reorganizar os canais de diálogo e reconquistar a estabilidade necessária para conduzir Aracaju com a altivez e coerência que seu mandato promete.