Enquanto o forró ecoa nas praças e o colorido dos festejos juninos anima a capital e o interior de Sergipe, uma outra realidade amarga e fétida segue escorrendo pelas calçadas do bairro Treze de Julho, um dos mais tradicionais e centrais de Aracaju. Não é exagero dizer que, por ali, a festa acabou antes mesmo de começar — sufocada pelo descaso e pelo cheiro horrível do esgoto a céu aberto.
Ruas como Homero de Oliveira, Sílvio César Leite, Joventina Alves e adjacências viraram endereço certo de indignação. Desde o final de maio, moradores e comerciantes convivem com esgoto transbordando nas portas de suas casas e estabelecimentos. O problema, antigo, ganhou novos contornos com a chegada da empresa Iguá, que assumiu, no dia 1º de maio, a concessão dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário em Aracaju — em substituição à criticada Deso.
A mudança, que deveria simbolizar um novo tempo na prestação desses serviços essenciais, até agora tem servido apenas para renovar o cansaço da população com mais promessas que não se cumprem. A esperança, que uma parte significativa dos sergipanos depositou na privatização do sistema, está sendo jogada no mesmo ralo entupido que transborda pela cidade.
É justo questionar: qual o plano de contingência da Iguá para situações como esta? Onde está a resposta rápida que o discurso da eficiência privada prometia? Em pleno século XXI, e em um dos bairros mais valorizados da capital, a convivência cotidiana com esgoto a céu aberto é uma afronta à saúde pública e à dignidade dos cidadãos. Se a Treze de Julho está nesse estado, o que se esperar das regiões periféricas menos visíveis?
A omissão não pode ser naturalizada. Não basta adornar a cidade com bandeirolas e trios elétricos se o básico — o mínimo de saneamento — não é garantido. Os festejos juninos são importantes para a cultura e a economia local, mas nenhuma celebração pode ser plena quando parte da população precisa driblar poças de esgoto para chegar em casa.
É hora de as autoridades municipais, estaduais e, sobretudo, a empresa concessionária, darem uma resposta à altura do problema. O povo sergipano não pode continuar dançando com os pés na lama.