O equipamento também realiza busca ativa dos casos referenciados pelos Creas e Patrulha Maria da Penha, com o objetivo de levantar as demandas e fazer os acompanhamentos técnicos necessários
O Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Cram) completa 30 dias de funcionamento nesta quinta-feira, 21, e se consolida como um equipamento porta-aberta de extrema relevância para o enfrentamento à violência doméstica em Aracaju. O órgão instituído pela Prefeitura de Aracaju é gerenciado pela Secretaria Municipal da Assistência Social, no âmbito da Coordenadoria de Políticas para as Mulheres da Diretoria dos Direitos Humanos.
Ao longo deste primeiro mês de existência, o Cram já atendeu 36 mulheres que buscaram o serviço de forma espontânea. Entre as demandas, foram registrados 144 atendimentos de acolhimento, visitas, orientações, encaminhamentos, entre outros. Além disso, há a busca ativa dos casos referenciados pelos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) e Patrulha Maria da Penha (PMP), com o objetivo de levantar as demandas e fazer os acompanhamentos técnicos necessários. Dos quatro Creas e da PMP, 288 casos já foram encaminhados.
A secretária da Assistência Social, Simone Santana Passos, destaca que o Cram é uma das estratégias previstas no Plano Municipal de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, implantado no município em 2021. Desde então, diversas ações foram instituídas a fim de avançar nas políticas de enfrentamento à violência doméstica na capital, ofertando espaços de acolhimento e proteção à mulher.
“Temos uma gestão bastante preocupada com a causa e que tem buscado avançar cada vez mais na oferta de atendimentos, proteção e, principalmente, em dar protagonismo e empoderamento às mulheres. Temos diversos instrumentos que foram implantados visando o combate e a conscientização para o fim da violência, entre eles o nosso Plano Municipal, que traça as estratégias e ações. Em seguida, instituímos o Protocolo de Atendimento, definindo os fluxos em toda a rede de proteção, sem contar as parcerias para atendimentos prioritários, encaminhamentos para o mercado de trabalho, e, por fim, a implantação do Cram, que é uma forma de oferecermos um atendimento específico a essa mulher, de acolhê-la e de encaminhá-la para as demandas necessárias para a superação da violência”, destaca.
O Cram conta com uma equipe composta apenas por mulheres e no espaço são ofertados atendimentos psicológico, social, orientação ou encaminhamento jurídico, Cadastro Único, entre outros. Localizado na rua Campo do Brito, 109, no bairro 13 de Julho, o espaço está em uma área estratégica, facilitando o acesso de quem reside na Zona Norte ou Sul da capital.
“A primeira sensação que a gente teve aqui foi de ruptura da invisibilidade. Porque as primeiras mulheres que nós atendemos não tinham passado por meio nenhum. São mulheres que trabalham, algumas têm um perfil socioeconômico mais favorável, porém, se sentiam aprisionadas, e essa foi uma grande surpresa para a gente. Então a sensação foi de que a gente está chegando onde a política pública ainda não tinha chegado. De que a gente está rompendo com esse distanciamento. A partir daí, também, já articulamos com a própria rede socioassistencial, com os Creas, para ter um levantamento mesmo da demanda reprimida que nós precisamos atender”, explica a coordenadora do Cram, Edlaine Sena.
Além das mulheres que acessam o Cram de forma espontânea, o equipamento passará a referenciar também as mulheres acolhidas na Casa Lar Núbia Marques, equipamento da Alta Complexidade da Proteção Social Especial (PSE) do Sistema Único da Assistência Social (Suas), que acolhe mulheres vítimas de violência sob medida protetiva, encaminhadas pela rede de proteção. “O objetivo é que todas as mulheres que estejam no abrigo passem a ser também referenciadas aqui pelo Cram. No momento do desligamento, a equipe técnica de lá já entra em contato com a nossa equipe e a mulher, automaticamente, já passa a ter esse acompanhamento por aqui também”, pontua.
Acolhimento humanizado
O Cram funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, com capacidade para realizar 200 atendimentos mensais. Ao buscar atendimento, as mulheres são acolhidas, inicialmente, por uma equipe técnica especializada e o atendimento é sigiloso. Além do atendimento à mulher, o equipamento oferta também um acolhimento específico aos filhos (as), com uma brinquedoteca e acompanhamento de uma educadora social.
“Quando ela chega ao equipamento, o primeiro passo é tentar tranquilizá-la. Explicar qual é o serviço e que ela está em um ambiente seguro. Após isso, a gente precisa identificar as demandas delas. Podem ser orientações jurídicas, atendimentos psicológicos, mas primeiro a gente faz esse diagnóstico inicial das demandas, porque após a escuta a gente identifica demandas de benefício eventual, outros encaminhamentos, o acompanhamento da defensoria pública. Em casos que precise ir para a delegacia, a gente faz o acompanhamento. Se precisa ir ao IML, para fazer o exame de corpo de delito, a gente faz esse acompanhamento, aguarda ela fazer o exame e leva até a residência ou outro ambiente que ela se sinta mais segura e queira ir”, explica a assistente social, Elissandra Mariano, que é responsável por fazer o primeiro acolhimento a usuária.
“Toda a equipe foi treinada para que a mulher que chegue aqui já se sinta acolhida da porta. Então o nosso próprio vigilante passou por esse processo de sensibilização para que essa acolhida seja feita desde o momento que o portão é aberto para que ela entre. Então isso tem sido feito desde aqui da recepção. Todas vêm aqui com uma expectativa, de uma informação, uma orientação jurídica, que é também muito importante, elas vêm com muita dúvida em relação ao registro de ocorrência, o que é que elas podem fazer para ficar longe do agressor. O apelo pela orientação jurídica, pelo acompanhamento psicológico, elas são muito fragilizadas”, completa Edlaine.
A auxiliar de serviços gerais V.A.F., 42, buscou o Cram acompanhada de sua filha, com o objetivo de solicitar apoio para sair da situação de violência. Após os atendimentos iniciais da equipe técnica, ela agradeceu bastante pelo acolhimento recebido.
“Eu vim a partir da indicação de uma cliente do meu irmão, que ela é advogada, então ela marcou com a coordenação, aí eu vim para o atendimento. Adorei. As meninas são super atenciosas comigo, com a minha filha, colocaram ela pra brincar. Estou saindo super satisfeita, bastante mesmo. Daqui eu já saí instruída em tudo. Inclusive, até com encaminhamento para o defensor público também, elas agilizaram tudo para mim”, disse.
Mais informações
Para mais informações e orientações sobre os serviços do Cram, o equipamento disponibiliza o telefone (79) 98138-6034, que também é Whatsapp.
Foto: Mateus Suza