Embora a igualdade de gênero no mercado empresarial venha evoluindo, mesmo que a passos lentos, a presença feminina em cargos de liderança no mundo da indústria ainda deixa a desejar. Algo que exemplifica esse cenário de forma nítida é o fato relatado no Global Megatrends 2022, estudo do Project Management Institute (PMI), que comprova que a escassez histórica de mão de obra no mundo, principalmente na pandemia, é ainda mais complicada pelas desigualdades nos papéis e nas oportunidades oferecidas para as mulheres no mercado de trabalho.
No setor da Engenharia de Produção, a atuação feminina, de acordo com a engenheira de produção Beatriz Aragão, sócia da empresa sergipana especializada em gestão empresarial Brain Engenharia, ainda é vista com olhares preconceituosos. Ela relata que, mesmo quando há um aumento na contratação de mulheres para tais cargos, o motivo pode ser devido a desigualdade salarial e não pela competência da profissional.
“Contratar um homem para um cargo de liderança é mais caro que uma mulher em sua mesma função. É uma batalha que continuamos seguindo firme para mudar essa triste realidade e, para tal, contamos com matérias e pesquisas que demonstrem que empresas que possuem mulheres nos cargos de liderança podem chegar até a 20% mais em resultado na empresa. Isso acontece pois mulheres em cargos de liderança dão mais espaço a igualdade de gênero, criatividade e inovação”, salientou a engenheira.
No que toca à sua área de atuação, Beatriz Aragão reforça a importância de criar um ambiente mais diverso, que seja visto de uma forma onde a figura masculina domina melhor a gestão de processos. “Olhado de forma específica para a parte de processos, é de extrema importância quebrar o preconceito de que primeiro é associado apenas a homens, por se dar em um ambiente mais rústico, que é o ambiente industrial e fabril. Devemos ressaltar sempre que não é uma questão de gênero e sim uma questão de capacidade técnica”, disse a sócia da Brain Engenharia.
Segundo o Project Management Institute (PMI) Brasil, nos últimos cinco anos, a participação feminina nas empresas apresentou aumento de 3%. Além disso, atualmente, o Brasil conta com cerca de 30 milhões de mulheres que têm seu próprio negócio, como mostram dados do Global Entrepreneurship Monitor. Dessa forma, embora com todas as questões relatadas, existe um cenário com perspectiva de crescimento para mulheres nas empresas.
“Ainda com certas dificuldades, mas hoje podemos contar com diversos exemplos de que é possível sim. Percebemos mais mulheres em cargos de liderança, mais mulheres fortes representando e demonstrando o poder feminino no empreendedorismo. E são nelas que devemos nos espelhar e focar na capacidade técnica que possuímos. Dentro da Brain entendemos que a gestão de processos, por si só, é dinâmica e precisa fazer valer a conexão com todas as áreas e funções envolvidas, sem perder sua essência. Características, percepções que entendemos e vivenciamos na prática que são melhor absorvidas pelo público feminino”, pontuou a engenheira de produção.
Aragão destaca ainda o entendimento da empresa de que o jeito como as mulheres gerem processos leva em consideração o olhar cuidadoso, observando no detalhe como as coisas acontecem e fluem, buscando garantir a conexão entre todas as partes envolvidas. Outro ponto destacado é a atenção especial para o treinamento e a comunicação de como o modelo deve ser realizado.
“Hoje temos mulheres em todos os cargos da empresa, desde administrativos a cargos de coordenação, cargos mais técnicos processuais de analistas de processos até cargos mais criativos como marketing e de negociação como nossa equipe comercial. Até a diretoria e sociedade que é justamente onde me encaixo”, relatou.